Estudo de caso UX — Usando a tecnologia a favor das costureiras

Ilma Andrade
9 min readNov 24, 2021

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Como utilizamos UX Design para entender as principais dificuldades de costureiras autônomas e trazer uma solução que aumentasse sua renda e engajamento no ambiente virtual.

Duração do projeto: 3 meses

Minha responsabilidade e contribuição: Planejamento, criação de personas e jornadas, ideação, condução de sprints, alinhamento de equipe, construção de protótipo de baixa, média e alta fidelidade, priorização de melhorias, planejamento e condução de pesquisa com usuários, UX writing, criação de mapa mental e business model canvas, teste com usuário local e remoto, e análises heurísticas de usabilidade.

Ferramentas utilizadas: Slack, Discord, Miro, Figma, Zoom, Maze e Google Docs e Trello.

O Desafio

Em julho de 2021, meu time, motivado pela desvalorização da mão de obra de costureiras autônomas e também pela falta de tecnologia investida na área, aceitou o desafio de entender as principais dificuldades enfrentadas por essas profissionais e como introduzir a tecnologia de forma mais favorável à classe.

Primeiro pensamos no slow fashion e como poderíamos juntar essas duas dores, o cliente que prefere comprar com consciência, e as costureiras, mas ao longo das pesquisas você verá que essa ideia não se concretizou.

Depois, queríamos resolver a dificuldade das costureiras em divulgar seus serviços no ambiente virtual.

E novamente, após pesquisas compreendemos que a divulgação de serviços não era o principal problema, haviam fragilidades presentes no dia a dia dessas profissionais que não poderiam ser deixadas de lado.

O cenário atual

O trabalho das costureiras é uma profissão antiga, mas ainda muito necessária, apesar disso muitas profissionais enfrentam problemas financeiros e de posicionamento no mercado.

De acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) o setor é o segundo maior gerador do primeiro emprego e cria 1,479 milhão de empregados diretos e 8 milhões de indiretos. Representa 16,7% dos empregos e 5,7% do faturamento da indústria de transformação, sendo o segundo maior empregador, atrás de alimentos e bebidas (juntos). Além disso 75% da mão de obra é feminina.

De acordo com a ABRAVEST (Associação Brasileira do Vestuário) a categoria de costureiras:

Fonte: Abit e IEMI

De acordo com a ABRAVEST (Associação Brasileira do Vestuário) a categoria de costureiras:

A Abravest cita também alguns fatores negativos que atingem o segmento há anos, alguns deles são:

Só pela magnitude desses números já fica impossível pensar em um “novo normal” da economia sem levar em conta o setor da moda. A digitalização do negócio também faz parte do ideário da cadeia produtiva.

Objetivo do Negócio

Criar um marketplace para conectar demanda, oferta e facilitar transações entre costureiras e clientes. Levando costureiras autônomas para o mundo online com praticidade e segurança, visando ampliar sua clientela, com mapeamento de localização e espaço para divulgação de seus próprios produtos, com o intuito de aumentar as suas vendas em 30% ao longo de 6 meses, a contar da implantação da plataforma. A seguir estão alguns exemplos de objetivos:

Objetivos gerais:

  • 30.000 downloads no primeiro trimestre, sendo 40% de costureiras e 60% clientes;
  • 60% de costureiras cadastradas com ao menos 5 pedidos ativos por semana, obtidos pelo app, nos primeiros 60 dias.
  • Após o sexto mês de cadastro, ser o principal canal utilizado para atendimento de 40% do total de clientes de costureiras;
  • 50% dos cadastrados no Dona costura, realize sua primeira solicitação/pedido nos primeiros 15 dias de uso.

Devido a falta de parâmetros base, as estimativas acima mencionadas deverão ser revisadas mensalmente para validação e ajustes dentro das métricas operacionais coletadas.

veja o estudo completo de Objetivos, Estratégia e Métricas do negócio

Usuários

Perfil dos usuários

Representamos nossos usuários através de personas, com o objetivo de promover empatia e fixar na memória, além de criar um modelo mental comum dos traços, necessidades, motivações e comportamentos dos nossos usuários.

As personas foram atualizadas após pesquisas qualitativas, a fim de deixar claro o raciocínio que levou à raiz do problema.

Jornadas dos usuários

Para identificar oportunidades de negócio, observamos quais passos os usuários realizam em seu dia-a-dia para realizar as atividades, ainda sem a utilização de nosso produto.

Primeira etapa de validação

Mediante as etapas anteriores optamos por utilizar a Matriz CSD para estabelecermos quais eram nossas certezas, suposições e dúvidas. Em seguida com as informações obtidas, fizemos a Matriz de Conhecimento x Impacto para priorizarmos quais questionamentos gerariam mais impactos nas decisões que seriam tomadas para a construção da solução.

Clique aqui para visualizar o Planejamento de pesquisa.

Pesquisa quantitativa

Dois questionários foram elaborados para nossa primeira pesquisa, ambos foram enviados através de redes sociais como Facebook, Instagram, Telegram e WhatsApp.

Para incentivar a aderência de costureiras, oferecemos um e-book com o tema como cobrar melhor pelo trabalho’’, para a pesquisa de consumidores essa abordagem não foi necessária devido a abrangência do público alvo. As amostras coletadas foram suficientes para validarmos nossas hipóteses.

As perguntas com respectivas suposições e validações, estão neste artigo.

Para costureiras recebemos: 54 respostas

Veja abaixo algumas de nossas dúvidas e suposições:

Para clientes de costureiras obtivemos: 51 respostas

Abaixo estão as principais dúvidas e suposições:

As perguntas com respectivas suposições e validações, estão neste artigo.

Pesquisa qualitativa

Após obter os dados da pesquisa quantitativa, decidimos aplicar uma pesquisa qualitativa para sanar as dúvidas ainda existentes. Entramos em contato com 4 costureiras e 4 clientes que haviam participado da etapa anterior e tinham o interesse em participar da segunda etapa que foi realizada através de ligações telefônicas.

Vejam abaixo as principais perguntas e os insights:

A partir dos resultados obtidos descobrimos quais eram de fato nossos reais desafios.

Alternativas de solução

Após a finalização da pesquisa utilizamos a técnica do “Como poderíamos” para criar nossa matriz de Impacto X Esforço. E assim identificar possibilidades de soluções e melhorias para costureiras e suas clientes.

Veja aqui o estudo completo de priorização

Após analisarmos o resultado do gráfico em conjunto com os resultados de pesquisa, nós constatamos que a maneira mais eficiente de atender a todos os aspectos citados anteriormente seria :

Criar uma plataforma mobile.

Benchmarking

Para entender melhor o cenário atual dos nossos principais concorrentes, foi realizada uma pesquisa de mercado. Dessa forma, também conseguimos visualizar como nosso cliente final está sendo atendido atualmente.

Identificamos que os principais concorrentes não oferecem muitas vantagens para as profissionais e suas clientes. Questões como deslocamento da costureira, pouca visibilidade sobre a produção de peças próprias, além de entrega expressa para clientes, parecem ainda ser pontos que podem ser melhorados.

Ideação

A partir deste ponto nós resolvemos focar nossos esforços de pesquisa no público que possuía as dores e dificuldades mais latentes, nesse caso seriam as costureiras, mas claro sem divergir dos interesse dos clientes dessas profissionais.

Iniciamos com o esboço em 4 etapas, onde cada membro da equipe faz anotações, desenhos, crazy 8’s e esboço de solução, em seguida temos um brainstorming de ideias onde revisamos os pontos importantes e definimos os resultados.

Fluxo do protótipo de media fidelidade

Veja o protótipo de média fidelidade

Teste de usabilidade

Para o teste de usabilidade optamos por utilizar já o protótipo de média fidelidade, contendo textos, imagens e ícones, essa decisão ocorreu porque nosso público tem dificuldades com sistemas complexos e o teste com o protótipo de média fidelidade já traria um feedbacks mais completo sobre a plataforma.

Fizemos o teste Remoto Moderado por meio do Zoom, com 6 costureiras, idades de 35 a 60 anos, que poderiam estar em qualquer parte do Brasil, e o tempo de teste foi de 30 a 45 minutos.

No teste nós não informamos sobre o que seria o aplicativo, pois queríamos ver o quão intuitivo ele seria, e também introduzimos 3 tarefas a esses usuários.

Veja aqui o planejamento de pesquisa

A primeira tarefa era para que na tela inicial o usuário aceitasse um pedido (fluxo de 4 telas) — O intuído dessa tarefa era descobrir se ela conseguiria compreender as informações que foram endereçadas no fluxo. Como por exemplo: compreender quanto vai receber pelo pedido ou quando precisa entregar.

Durante o teste solicitamos que os participantes pensassem alto, e em alguns momentos, ao final da tarefa, também questionamos sobre suas escolhas.

A segunda tarefa era para que o usuário identificasse aonde estavam os pedidos em andamento e os pedidos que precisariam ser enviados pelo correio — Nessa tarefa queríamos saber se ela conseguiria compreender a arquitetura da informação do aplicativo.

Por último, também visando arquitetura da informação e funcionalidades do aplicativo, solicitamos que ela compartilhasse sua lojinha com uma cliente.

A partir dessas tarefas, analisamos todos os testes e fizemos a priorização de melhorias, houveram várias melhorias nessa etapa, e aqui estão alguns exemplos:

Na parte de detalhes do pedido, 2 de 6 usuários não entenderam o acréscimo de R$10,00. Para isso nós trabalhamos a parte de writing, trazendo uma explicação mais completa.
Na página inicial percebemos que 5 de 6 usuários tiveram dificuldades para relacionar as abas ao título pedidos. Para resolver o problema utilizamos o primeiro princípio de Gestalk, aonde o que está próximo, está relacionado, então aproximamos o título das abas.
Na última tarefa, percebemos que 2 de 6 usuários tiveram dificuldades ao interpretar o ícone de carrinho como sendo sua loja, para fazer a melhoria utilizamos a lei de Jakob e pesquisamos o ícone utilizado por aplicativos que dão a opção de loja aos seus usuários. E aí a gente trocou pelo ícone de casinha em forma de loja.

Veja aqui o relatório completo de melhorias identificadas

UX Writing

Desde o Desk research já estávamos atentos à semântica utilizada por nossos usuários, e ao longo das pesquisas e do desenvolvimento da plataforma fomos aprimorando toda a parte de UX Writing.

Veja aqui o estudo de UX Writing

Guia de estilo

Toda a biblioteca de estilos foi criada no Figma, desde grid, tipografia, cores, botões e componentes, para garantir a eficiência para trabalho do design e do desenvolvedor front-end.

UI Design

veja o estudo completo de UI aqui

Protótipo de Alta fidelidade

Clique aqui para navegar no protótipo

Segundo teste de usabilidade — Ferramenta Maze

Nosso público alvo tem dificuldades para operar algumas ferramentas de tecnologia, e foi por esse motivo, que no primeiro teste utilizamos a chamada de vídeo.

Mas como se trata de um trabalho acadêmico, gostaríamos de testar e usar as ferramentas propostas pelo curso e que são comumente utilizadas no mercado, com isso, optamos por utilizar o MAZE.

As tarefas propostas nesse teste foram as mesmas utilizadas no primeiro teste de usabilidade. No entanto, como já era esperado, o teste ficou prejudicado devido a dificuldades enfrentadas por costureiras ao tentar operar a ferramenta sozinha.

Próximos Passos

Temos ciência que esse é apenas o começo, pois um produto nunca tem fim, mesmo após o lançamento, as melhorias precisam ser contínuas.

  • Aplicar mais testes de usabilidade e aplicar novamente o SUS (clique aqui para ver a pesquisa) para comparar nossos KPI’s.
  • Buscar informações sobre a tecnologia, custos e viabilidade para investidores
  • Acompanhar os resultados, dados e métricas para validar o produto.
  • Implementação de novas ferramentas, conforme necessidade.

Conclusão

O exercício de solucionar um problema real, pensar em cada etapa de solução desde entender a problemática de uma classe tão desvalorizada e necessária, até encontrar a solução palpável foi extremamente desafiador para todos os integrantes do grupo.

Cada etapa, cada tarefa e cada reunião foi extremamente importante, não somente para o design, mas também para o desenvolvimento profissional dos integrantes do grupo. Todos nós colocamos tempo, comprometimento, seriedade e criatividade em cada pequeno detalhe desse exercício.

A concepção de todo o projeto fez parte do Estudo de caso de desafio proposto pelo UX Unicórnio, para a formação em UX, UI e Product Design. Gostaríamos de agradecer o suporte de toda a equipe.

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Written by Ilma Andrade

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